À ESPERA DA SEGUNDA VITÓRIA
2011 é o ano em que a UNESCO se pronunciará sobre a Candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Estamos convictos de que a nossa Candidatura tem todas as possibilidades de sucesso nesta avaliação, e o seu principal capital é precisamente o grande consenso que em torno dela se gerou em Portugal.
Aprovada por unanimidade por todas as forças políticas quer na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal de Lisboa quer na Assembleia da República, contando com o empenho expresso do Governo e o alto patrocínio do Presidente da República, a Candidatura ultrapassou todas as barreiras partidárias em nome de uma causa colectiva de salvaguarda e promoção da Cultura portuguesa. Juntou num esforço coordenado todas as instituições que possuem espólios arquivísticos e museológicos que permitem preservar a História do Fado ao longo dos últimos dois séculos. Agregou colectividades culturais e recreativas dos bairros de maior tradição fadista, associações profissionais representativas dos músicos, dos autores e dos editores ligados ao género e participações individuais de largas dezenas de figuras centrais do universo do Fado. Mobilizou, dentro e fora das Universidades, investigadores que inventariaram gravações históricas, prepararam reedições de estudos há muito esgotados, organizaram antologias de músicas, poemas e iconografia do Fado. Desafiou músicos e editores para novos projectos artísticos que asseguram ao mesmo tempo a preservação da memória do Fado do passado e continuidade futura da energia criativa e renovadora que sempre o caracterizou.
Mas sobretudo a Candidatura ajudou-nos a redescobrir, a conhecer, a compreender melhor e a consolidar, todos juntos, o papel fundamental que o Fado tem no nosso olhar sobre nós próprios, na nossa consciência da identidade portuguesa, na nossa capacidade simultânea de sermos quem somos mas de estarmos permanentemente abertos ao mundo. Quando a consagração da UNESCO chegar, como esperamos, será apenas a segunda vitória, porque a primeira já a conquistámos nós mesmos.
Rui Vieira Nery